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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Trauma trópicos

A liberdade era só uma questão de perspectiva, de ótica, as tuas costas eram o meu sopro ou minha corrente, metamorfoseava de acordo com teu corpo, se eram suas costas com meu peito, seu peito com meu peito, nunca dávamos as mãos, pois a liberdade nunca ocorria em paralelas, você girava para encontrar suas asas nas minhas costas, mas no meu peito você via clausura, você segura em meus ombros, e fixava em um ponto, procurando algum aval para decolar vôo, e eu te botava de costas, procurando algum aval para me fechar em prisão, podíamos rodopiar ou esperar que o chão virasse espiral. A cada passo para frente, eu entrava em teu corpo, mas você teimava em rodar, afastando meu vôo, afastando teu canto, enganando minha velocidade. A cada passo que eu dava para trás, você girava ainda mais, enclausurando asas, conforto e ilusão. Podíamos somente nos abraçar, mas tuas mãos não eram tão mágicas para abrigar meu truque, e retina alguma podia ser ludibriada com tua mentira. Talvez haja solidão demais entre pássaro e gaiola, entre cara e coroa, e não há mágica suficiente para dobrar moedas. Era mais fácil dobrarmos, virarmos unha e carne, mas asa que vira do avesso é grade, perderíamos o eixo, desalinharíamos a lógica e em desalinho, cairíamos. Separados éramos estáticos, juntos éramos tempo. Caminhávamos na corda bamba, você asa, eu cárcere, você carcará, eu mão fechada, ou eu pássaro e você gaiola? Girávamos tanto que eu já não sabia do que eu precisava em ti, ficavamos tanto tempo em delírio, que teu peito se tornou minhas costas, fundimos abrigo e liberdade na mesma ilusão, e na ilusão arrebentamos a corda, arrebentamos o destino, nosso cartaz caia, nossas cartas caiam, teu corpo nu, longe do meu, só um corpo nu, sem uma grande invenção, você lamentava,a falta de pele, e meu corpo longe do seu, meu corpo, o ilusionismo completo, já não precisava de tua seqüência, do teu corpo sobreposto ao meu, só precisava do teu vento, do teu sopro e assim eu viraria teu peão para sempre, a rodar, a rodar, a rodar, em um puro egoísmo circular.

Um comentário:

Ana Clara Fujimori disse...

"Podíamos somente nos abraçar, mas tuas mãos não eram tão mágicas para abrigar meu truque"

Talvez por ser apenas um truque, tudo nunca passa de uma simples mágica.