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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Desencontrando-me

Não há nada mais genuíno do que a surpresa
ingenuo como o primeiro voo de um pássaro
engenhoso como um mergulho antes da queda
a alma intacta é mais livre do que a flor já torta
e o peito é espuma quando não há vento
Meus olhos respiram cores que não lembro o nome
é como o pensamento traduzindo uma nova lingua
minhas mãos deslizam um novo mundo
amortecendo a vida que ainda não foi declamada
posso abrandar o folego, mas nunca vou suprimir o susto
tácito é o que se move dentro de mim, em silencio meu espirito se renova
como se renova Deus, a cada oração
meu nome é tépido demais para me manter vivo
posso fugir do que sou, mas não posso encontrar quem quero ser
e fugir de mim é desencontrar até mesmo os meus desejos.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Limiar da liberdade

No limiar de todo limite
o céu é deslocado
no limbo da saudade
um torso alquebrado de desejo
o vazio é uma arma apontada para o sexo
Sua janela sem vasos, tira a liberdade dos pássaros
Eu cruzo a floresta, e teu significado é meu corpo
Fibras e palavras de madeira
a chave dos sonhos está perdida entre agulhas
fura o pulso que ainda não virou verbo
quem chama a vida de morte
pode muito bem morrer sem dor
atribiu a raiva a mancha da pele
a voz de um sorriso que não se calou
Se a mulher domasse a serpente
não existira inferno
o pecado está na forma e não na ideia
o objeto que hoje te estupra, não tem rosto
eu prefiro as maças, do que sua personalidade
o que não tem cara, não permanece nunca na memória
E enquanto isso, todos os sinos pegam fogo

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Retrovisores Quebrados

Se distorço seu verso, é para que ele ganhe movimento
A traição só acontece no passo
O que não está domado, não ameaça ninguém
E eu sou réu e condenado do que ainda não fiz
Minha mentira é a prova maior que não me respeito
A minha vontade em ser teu, é maior que minha felicidade
Se desequilibro o seu paladar, é para que ele mastigue o passado
Dou um passo e já não me matei
O que não está vivo, não me faz morrer
E eu sou céu e inferno do que ainda vou fazer
Minha verdade é despeito
Quando chego ao alto, só o grito ostenta
O grito é meu veredito
E o meu medo é uma confissão aos solitários
Somos todos retrovisores quebrados.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Eu não sou eu

Há um descuido dentro de mim
o compromisso de tudo que não faz sentido
eu me perco, quando a inteligencia é mais importante que a felicidade
sensações são conceitos, pensamentos preceitos e sentimentos preconceitos
Há um infinito em mim
Eu que penso em mim, mesmo quando não sou eu
A voz da minha consciencia não é minha
Eu que escrevo o que não sou, mesmo sendo
Não é mentira, é dependencia
dependo do que não é meu, para ser completo
Mentira seria, se eu fosse feliz
Eu que sorrio, enquanto choro
Só sou eu enquanto durmo

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Divórcio

- Preciso de um Advogado
- Por que? o que houve?
- Quero me divorciar
- Quando decidiu isso?
- Há uns dois meses
- Mas você está casado há dois meses
- Pois é

Caos

A incerteza é formada por imperfeições, só compreendo o harmônico, o instável nunca esta completo, o que destoa no meu universo é a desorganização do orgânico.O sentimento em dissonância aflige o linear pensamento. Hermético, o coração só abre quando dispara. As palavras densas para uma hegemonia de coisas sem sentido. As emoções uniformes controlam o inconsciente perdido. É preciso um filtro coerente, mais do que um crivo de acuidade. A mentira confia na sinceridade, só assim ela se liberta. O que me prende para baixo é tentar interpretar a dor, toda vez que me distancio dela, ela corre atrás de mim, é preciso uma distancia sem espaço, e um espaço sem tempo. O que está perto não se manifesta tal qual o que esta longe. É melhor sufocar meus medos do que suprimi-los. Eu só confio no que me surpreende, o que é rotineiro pode um dia me trair. Quantos pensamentos indizíveis vão invadir minha calma? Não decoro mais os fatos, mas insisto memorizar o caos.