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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Arabesco

Confisca minha palavra. Do livro que queima, a faísca é silêncio. Arisco o significado, da boca que cospe cinzas. Ofusca tua capa, para eu não te julgar em poesia. O ar fisga teu infinito, e o espaço configura sua geometria em meu corpo. E a figa para não se perder no mundo, é a raiz que cresce entre nós. Desse peito arabesco, floresce arroubos em todo bosque. Há mais flores do que letras, e no pronome decorativo de todo amor, reascende o teu nome.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Artista

Deixe-me assim, apático.
Que nada me apetece a não ser o amor
Deixe-me assim, em um oceano ártico.
Congelando cada partícula, até virar patético.
Deixe me virar apenas uma articulação
Entre o teu sonho e o teu medo
E na tísica dissimulação , deixe-me assim artista.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Cantando

Exponho-me, do espinho á paz.
Da face que apanha, ao coração que é apunhalado.
Expondo – me assim, espanto os fracos
Como se eu só amasse, cantando.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Quando o Zé deixou de ser ninguém

Quando o Zé deixou de ser ninguém
Eu passei a desfiar tua fantasia
e a desconfiar do teu confete
Quando o Zé deixou de ser ninguém,
A ponte que nos unia, virou serpentina
e na repentina ingenuidade eu me pus em seu lugar
Quando o Zé deixou de ser ninguém
Vislumbrei que o ninguém, sempre foi um personagem.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Da tua tatuagem

Para me encorajar, anoiteça comigo.
Eu que não durmo sem tua sintonia
Você que adivinha meu peito, que esvoaça meu sono.
Para cajurar minha noite conjuga teu céu com minhas folhas
Você que prefere cegar minha presença e confundir meu regozijo
E entre conjurações, vou me constranger em sua pele.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A vida que impede o sonho

O que me impede em vida
padece em sonho
O que poda minha lembrança
volta para o pódio da tristeza
Lá no alto, tão pedante quanto minha promessa.
Isso que me pede coerência
é tão pudico quanto o meu amor.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Ventar

É preciso ventar
E jogar o sol para abaixo dos seus pés
É preciso salgar as lembranças, antes da maré ressecar.
E quando o futuro se encher de espuma, deixar o relento para amargura.

Acima de quem

A loucura nunca foi um caminho
Acerta quem respira acima do amor
Quem enxerga de longe a promessa e prefere a sombra
Quem primeiro constrói a casa, antes de morar em ilusão
Acerta quem por último pede desculpas
Quem não procura o óbvio não se machuca com o mistério.
E quem de nós dois foi mais um só?
E a incerteza dói mais que o desencontro.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Castigo

Não há mais braços castos
Tudo que instiga traz castigo
e o castigo me gasta o coração
Não estimo nenhum lástima
Nem mastigo nenhum cântico
Somente meu peito rústico
deixará rastros catatônicos.
Perdoe meu pensamento ríspido
é que a tristeza nunca foi insipida.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Paisagem enquadrada

Dentro daquele quarto havia mais fotografias do que paisagens. Eles, cansados, indispostos em qualquer pose, da posse já não querem mais nem mesmo a verdade. O grito na garganta como se toda a vida dependesse apenas de uma única palavra. O desabafo antes lento, ganha velocidade a cada palavra dita :

- Essa tua cara de paisagem, que eu não aguento
- Essa tua cara de banco de praça, onde o sol desbota a madeira
- Aquele banco, sem crianças em volta claro, por que você nunca quis ter filhos comigo
- Essa tua cara de travesseiro, quem dera fosse uma marca de travesseiro no rosto, mas você é a própria cama em um sábado de chuva.
- Eu te via se transformar em banco, cadeira de balanço, em tudo, menos em marido

Ele escuta tudo, calado, como se não fizesse questão de enquadrar seu pensamento, mas como toda cena é feita por indiferença, ele resolve descartar qualquer esquadro :

- Eu que não aguento essa tua cara de janela, essa tua cara de fotógrafa
clicando meu braço, clicando meu mal humor, clicando meu sábado
- Eu nunca consegui ver seu rosto, por que ele estava sempre escondida por alguma câmera moderna
- Esse teu olhar nunca foi seu, você nunca me entendeu, por que nunca olhou o vazio, tudo que era vazio, você ocupava com enfeites ridículos.
- Você desfocou todo sentimento, a favor de uma luz que nós nunca nem tivemos.
- Eu te via transformar tudo em paisagem, até mesmo nosso amor.

E tudo acaba em cinzas.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Da espera como invenção

Não há pureza em nenhuma espera
A espera é espuma de um rio que nunca confluiu com nada
A espera expele o que há de mais incólume
É o lume que me deserta sem me queimar
Que lima todo pensamento da lembrança
Não há pureza em nenhuma espera, nem na espera como invenção.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Satirizando o vazio

Ando satirizando toda minha sorte
Espreitando-me de espanto
No de repente que consola meu canto
Sucessivas palavras sem sucesso
Intercalando meu silêncio interno, e calando meu vulto
Meu grito corre em sua fisionomia, tornando meu coração vítima
Ando explicando o que não se aplica a razão
E respondendo o que não se pode enxergar
Ando explanando todo esplêndido
Expondo o que em mim há de pendente
Como um pêndulo que revela o vazio.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Aquário

A quanto andas
Há quanto nada

Arredonda-se a minha visão
Na curva do teu abrigo

Da redoma que ilude eu me redimo
Sou eu que mergulho em distorção

Eu que não sabia lidar com teu vidro
Híbrido de fraqueza e tenacidade

Do feixe de luz que morre pela minha boca
Prefiro a realidade do seu aquário

Amor

Em tudo que eu coloco amor
fica maior que o amor que eu coloquei.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Tempo - Espaço

O meu tempo encontrou o seu tempo
E o que em mim era espaço, hoje é só amor.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Espera

Eu, perito em bater em sua porta
No ímpeto de esquecer a chave, nenhuma imperfeição é bem vinda
O nó na garganta não me enobrece, nem desata no abraço
Através da distração, traço o revés da espera
No chão o tapete que só para me tapear, não voa
Eu, perito em bater em sua porta
No ímpeto de esquecer a chave, na queda dura, me fechei em saudade.