E sempre que eu te via esperar outras bocas, me arrependia de um dia ter esperado a sua, meus lábios perdiam a cor, ao meio de tanto preto e branco. Me arrependia de ter molhado os lábios, não sei se de medo ou esperança, lábios que se logo secavam enquanto imaginava miragens; seus beijos com a outra. Meus lábios se faziam desertos para quem um dia quis sentir tua língua, se fazia tabula rasa, para quem um dia quis sentir tua poesia.Te via esperar por outras bocas, e a minha ressecava da falta de palavras, e de tão árida formavam algumas rachaduras, em que saliva alguma conseguiria percorrer. A minha boca tentava digerir a cena da sua boca com aquela outra boca, e não obstante, você sorria para mim, e por não me dar nada eu olhava seus dentes, que só serviam para mastigar as lembranças de que um dia tua boca esperou a minha.
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