quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Trauma trópicos
O silêncio não quebra taças
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Pedaço de ti
Pregos
domingo, 16 de outubro de 2011
Da cor do seu cabelo
Na sua casa o quadro só servia para cobrir a parede vazia, era uma tentativa de tapar o sol com peneira, no caso, era tapar a parede com desenhos de girassóis, você emoldurava a enganação em uma tentativa de tapear o sol que pouco batia em sua sala, não que os girassóis precisavam deles, já dizia a música, as flores pintadas não morrem, ou seriam de plásticos?. Eu lembro bem como era sua parede antes do quadro, era um silêncio visual entre a gente, uma distância branda que nos separava , algumas vezes eu projetava ali na lacuna, balões de quadrinhos com diálogos interessantes ou aqueles balões mais arredondados de pensamentos, a sua parede sem o quadro era só uma parede, ao contrário do quadro, que sem a sua parede, já era um belíssimo quadro. Lembro da sua tentativa de ornar a parede com uma cruz, o que deixava nossas conversas bem religiosas, mas que nos censurava quando tentávamos um contato mais íntimo. Depois da cruz, você botou na parede um calendário bem capenga, que transformava os nossos bate papos em uma competição, ganhava quem tinha mais amigos fazendo aniversario no mês, era uma bobagem, mas serviu para mediar o tempo do nosso namoro. Enfim você acertou com o tal quadro, e as primeiras vezes que sentei ao seu lado, e em frente a ele, eu ficava admirado como seu cabelo se camuflava com os girassóis, era quase como uma extensão, e eu já não podia mais ver aquela parede vazia, tinha impressão de que se você retirasse o quadro, você perderia o cabelo, ou pior, eu te perderia. Uma vez, eu até tive esse pesadelo, estávamos nos três sentados no sofá, eu, você, e teus cabelos, falando bobagens, quando alguém de rosto não identificado, entra pela porta e retira o quadro com cuidado, fazendo com que seu cabelo fosse perdendo a cor bem devagar, e no final se tornando somente um pontilhado sem cor, desses pontilhados para se pintar, que encontra em revistinhas infantis, e eu acordava desesperado para ir pintar o desenho. O quadro para mim tinha se tornado uma espécie de retrato de Dorian Gray dos teus caracóis, e eu sabia como isso ia terminar, um dia você simplesmente ia passar a maquina nos teus cabelos, e o quadro iria desaparecer em um segundo, mas eu não podia deixar isso acontecer, eu gostava demais do quadro, para correr esse risco, quer dizer, gostava demais do seu cabelo. Por muitas vezes eu não sabia se te visitava para te ver, ou para ver o quadro, eu tinha perdido a noção do limite entre um e o outro, eu já não lembrava o que tinha por de trás do quadro, o que tinha por de baixo dos teus cabelos, e o que tinha atrás do quadro eram dois segredos indecifráveis, mas eu sabia que um remetia ao outro, a fuga que eu procurava em teu pescoço, era o buraco aberto por de trás do quadro, mas por você fugiria por um buraco? você não estava na prisão, você poderia sair pela porta, pela janela, eu que estava preso nessa ilusão, nesse pesadelo, quem deveria ter feito o buraco era eu, mas não, eu também não queria fugir, e enquanto beijava teu pescoço e sentia teu cabelo ainda molhado do banho, eu imaginava que por de trás daquele quadro havia uma infiltração, e prestando atenção no quadro enquanto eu beijava suas costas, eu até podia sentir o cheiro dos girassóis molhados, contudo não era isso, isso era muito trivial para uma analogia que para mim, atormentava tanto. Eu já não sabia o que fazer, andava na rua, e te imaginava uma medusa, que no lugar de cobras, estavam incutidas girassóis, girassóis no lugar de cabelo, e os girassóis gritavam para serem libertos, era horrível. Ao me deitar tive outro pesadelo, eu te abraçava por trás, ia acariciando suas madeixas, seus caracóis e embaixo desses caracóis eu descobria um ninho de pulgas e piolhos e imediatamente o quadro despencava da parede, revelando uma enorme quantidade de larvas e outros da mesma estirpe, acordei atento e a tempo, lavei meus cabelos, como se fosse o meu que tivesse impregnado de duvidas, incertezas e alucinações e de fato estavam, as paranóias coçavam tanto quanto uma picada, e as neuras eram como pequenos ovinhos me deixando ainda mais confuso. Eu precisava fazer algo, precisava tirar essas idéias do meu couro cabeludo, precisava erradicar esses girassóis, queimá-los, rasgar o quadro, nem que para isso eu fosse feri-la. Resolvi te visitar pela ultima vez, com a missão de descobrir o que estava acontecendo, subi as escadas em Caracol,igual teus cabelos, escada esta, que me deixou mais confuso, mais tonto, você me recebeu linda como sempre, com uma taça de champanhe veio me abraçando, eu olhei para o quadro, olhei para você, tentando por uma ultima vez esclarecer o jogo, o dialogo que havia entre eles, mas eu nunca fui convidado pela aquela conversa, então me fiz de voyeur, deixei o quadro mimetizar, a simbiose acontecer, enquanto procurava pistas entre o emaranhado de seus cabelos, pela cor, pelo volume, era como procurar uma agulha no palheiro, mas eu não procurava agulha, eu procurava alguma chave, o que era mais difícil, pois a chave se camuflava com os girassóis e também com a coloração de seu cabelo, contudo, eu continuei, como mãe que procura piolho no cabelo do filho, como quem procura pimenta na cabeça do século, eu continuei meu trabalho minuciosamente, ela pensava que era afago e se entregava totalmente aos meus braços, depois de alguns goles a mais no champanhe, e de algumas rodadas ao som da música, eu olhei mais atentamente ao pescoço de Laura, pensando: Se dessa vez eu não descobrir nada, eu juro que a deixo em paz, eu não queria que escapasse nenhum detalhe, eu não queria ter que desistir, então procurei provas maiores que qualquer analogia ou realidade, naquele momento eu já não sabia se o que eu estava vendo era um mundo de idéias ou um mundo de formato, então encostei meus olhos ainda mais próximos ao seu pescoço, foi quando vi, era um desenho meio borrado, pensei comigo : Ela nunca me disse que tinha tatuagem, e eu nunca havia percebido,parecia um grande borrão, um desenho usado nesses testes de psicologia, eu estava sem óculos e para piorar, estava embriagado e a cada girada de Laura, eu tentava decodificar sua tatuagem, eu olhava a tatuagem e olhava a parede, a tatuagem havia se transformado em quadro, e o quadro em tatuagem, e eu que já não sabia o que era real, comecei a ver uma seqüência de números na sua pele, imaginei que era uma dessas tatuagens que pessoas fazem com um códigos de barra, pensei comigo, Laura nunca faria uma tatuagem dessas, foi quando veio tudo a tona, como uma profusão de imagens não lineares, comecei a lembrar da gente sentados, do cabelo desaparecendo, do seu pescoço, das larvas, da fuga, do buraco, da infiltração, olhei para os olhos de Laura, que estava intacta a minha frente, e eles me responderam, falaram comigo : - Não é obvio para você? O pescoço, os números, o quadro, o por trás do quadro, eureca, era isso, era isso, com a força da resposta, e com a solução em mãos, pus a enforcá-la, enforcar teu pescoço, enforcar o caule, os girassóis murchavam, seus olhos lacrimejavam, minhas mãos tocavam os números, sua tatuagem, a senha do cofre, o cofre por de trás do quadro, só esperei de fato você cair, para assim, finalmente retirar o quadro de lá.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Outra onda
Primavera em tua cintura
Vento a rosar os seus teus cabelos
Leva da tua cor a minha cisma
Essa tua direção que finda em meu abraço
Opõem, compõem, impõem teu sabor
Se deus te cede um enfeite
É que o céu já mudou a essência
Seu anel de nuvens, a saia que roda e faz chover
Distraia o mar, enquanto a sua terra é o meu erro
Borda outra onda, outra onda, outra onda
Que a areia vai se encher de vida.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Se essa rua
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Lábios
E sempre que eu te via esperar outras bocas, me arrependia de um dia ter esperado a sua, meus lábios perdiam a cor, ao meio de tanto preto e branco. Me arrependia de ter molhado os lábios, não sei se de medo ou esperança, lábios que se logo secavam enquanto imaginava miragens; seus beijos com a outra. Meus lábios se faziam desertos para quem um dia quis sentir tua língua, se fazia tabula rasa, para quem um dia quis sentir tua poesia.Te via esperar por outras bocas, e a minha ressecava da falta de palavras, e de tão árida formavam algumas rachaduras, em que saliva alguma conseguiria percorrer. A minha boca tentava digerir a cena da sua boca com aquela outra boca, e não obstante, você sorria para mim, e por não me dar nada eu olhava seus dentes, que só serviam para mastigar as lembranças de que um dia tua boca esperou a minha.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Olhos Distraídos
Você diz que meus olhos são distraídos, mas o que eles olhavam quando apoiados em encantamento? Quando ancorados em tuas pernas? fincados em teus seios, como uma conquista promissora. Minhas retinas ainda traduziam a beleza que se despia em um piscar, minhas retinas ainda dublam o corpo que atuava em cima do meu. Minhas Pupilas reconheciam a luz do teu corpo em si, da praticidade da tua boca, do conteúdo de suas mãos, essa luz que entrava em seus órgãos, do orgasmo que se transformava em tempo e espaço. E era só o reflexo que detinha a cor que passava em nossos corpos. Os meus olhos que já abandonavam suas casas e a olho nu, percebiam a despedida dos teus pés que caminhavam em detrimento a minha saliva, e a despeito do meu colo. A água caia, enquanto meus olhos se fechavam, você se banhava, enquanto meus olhos compreendiam e organizavam todas as profusões, da água, do cheiro, do apelo. E depois aquele teu corpo que saia, envolto há uma necessidade fisiológica, era o mesmo corpo, mas sem devaneios, era o mesmo corpo com aqueles meus mesmos olhos fincados em teu coração. Aos poucos você se vestia, e a cada peça, meus olhos já quase reconhecendo os seus, se distraiam em descanso, mas nunca, nunca te perdiam de vista, se eles em algum momento se mostraram indiferentes a sua presença, foi por pura falta de espaço. Você ao pé da cama, se maquiando, incitava meus olhos a vestirem tranqüilidade.
domingo, 2 de outubro de 2011
Paladar de Palavras
Marcos não sabia qual era a intenção gastronômica de Márcia, não sabia se culminaria em um bolo, em uma torta ou alguma gororoba ainda sem nome, tamanha era a ignorância culinária dele, e tamanha era desatenção, então marcos decide prestar mais atenção nas coisas retiradas do armário do que nas palavras ditas.
- Marcos você anda muito chorão. Disse de forma ácida, enquanto separava algumas laranjas
- Eu também ando chorando muito desde que me deixou. Concluiu o pensamento enquanto cortava alguns pedaços de jiló
Ele já não entendia, os alimentos pareciam tão desconexos, tão dispares entre si
- A verdade é que quero chorar agora, que raiva de você. Márcia despejava o sal em uma panela, com muita parcimônia
Marcos ainda sem entender aquele amalgamar de alimentos, não fazia muito sentido.
- Eu gostava tanto do nosso sexo, Marcos. Márcia mexe uma panela cheia de pimentas.
Foi quando Marcos compreendeu tudo, sim, alguma coisa ali tinha sentido
- Toma amor, coloca um pouco de açúcar
- Ah, era isso que estava faltando, açúcar, obrigado meu amor. Disse Márcia com o jeito mais doce do mundo.
Eles então se beijaram, e caminharam até o quarto, não sem antes Marcos decantar um punhado de pimentas na panela.
No quarto os paladares se entenderam, e deixaram a tal gororoba quase